Tuesday, February 03, 2009

Tormenta: As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury - Episódio 5

Uhu!

Em tempo recorde, aqui vai mais um episódio de As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury! É engraçado, porque a idéia deste capítulo e - principalmente - a imagem do personagem que aparece nesta parte da história, tem estado fixa na minha cabeça há quase um ano. Colocar tudo isso para fora dá uma sensação de alívio que vocês não tem idéia. O melhor é que o episódio 6 vai ser baseado em uma idéia ainda mais antiga.

Para quem não tem a menor idéia do que estou falando, "As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury" é uma série em capítulos sem periodicidade definida (por enquanto), ambientada em Arton, o mundo do RPG Tormenta.

Para ler os capítulos anteriores, basta clicar no link correspondente

- Capítulos 1 e 2
- Capítulo 3
- Capítulo 4
- Sketchbook


As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury

Episódio 5

Dessa vez não sei o que aconteceu. Mas não foi como quando entrei na arca, disso tenho certeza. Nada de sensação de estar caindo. Nada de luzes. Nada de nada, para falar a verdade. Acho que o que aconteceu quando entrei no caldeirão foi que apaguei.

Acordar foi uma experiência gradual. Primeiro um zunido bem lá no fundo. Depois a percepção de estar deitado, a sensação de gotas caindo na minha cara e finalmente a constatação de que estava deitado na grama à beira de uma estrada de terra enlameada. A colher de ferro firme na mão direita e o medalhão vagabundo pendurado no pescoço. E na chuva.

Onde em Arton, exatamente? Ótima pergunta.Não havia nenhuma placa indicando qualquer direção ou local. Nem casas por perto. Também não vi plantações ou bichos correndo pra lá e pra cá.

A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi algo que ouvi uma vez em uma conversa do meu pai com um taverneiro em Altrim: se você se vê sozinho em uma estrada desconhecida, é só uma questão de tempo até que meia dúzia de monstros bizarros apareçam literalmente do nada para te atacar, roubar, destroçar e mais uma porção de coisas desaconselháveis para qualquer pessoa que pretenda ter uma vida longa e saudável. É como uma daquelas leis místicas ou divinas que regem o mundo e foram criadas sabe-se lá por que ou por quem.

Como tudo que é criado em Arton sem motivo ou finalidade é coisa de Nimb, fechei os olhos por um instante e rezei – ou melhor, implorei – para que o Deus do Caos, da Sorte e do Azar mantivesse seus monstros longe da minha jovem carcaça. E deu certo. Para a minha felicidade e desapontamento de quem ouve essa parte da história, nada de mais emocionante aconteceu. Não naquele exato momento, pelo menos.

Só a chuva apertou ainda mais – e talvez eu pudesse ter evitado que isso acontecesse se tivesse dedicado um pouquinho da minha reza a Allihanna, Deusa da Natureza – mas a verdade é que naquela altura do campeonato já não fazia mais diferença mesmo. Minhas roupas já estavam mais do que ensopadas. E o pior é que eu tinha fome. E além da fome, meu corpo doía.

O fato é que no meio do tamborilar dos pingos caindo nas poças, ouvi algo bem estranho. Na verdade, estranho não. Fora de lugar, seria o termo mais correto. Era uma música.

Achei que estivesse delirando. Podia ser muito bem um efeito colateral da magia do velho doido. Pode ser que o modo como me lembro disso tudo hoje em dia seja meio distorcido. Alguém me disse uma vez que a gente nunca lembra as coisas como elas realmente aconteceram. O tempo passa e muito do que aconteceu fica pelo caminho por que a gente é obrigado a descartar certas coisas da cabeça para ocupar com outras novas. Ou talvez seja só o fato de que tudo passa a funcionar errado conforme a gente vai ficando velho e gasto, embaralhando uma memória na outra e juntando fatos que na realidade não tinham nada a ver um com o outro, fazendo com que a gente passe a lembrar tudo meio errado.

A verdade é que, independente de tudo isso, a impressão que eu tinha – e ainda tenho – é que a música era tão nítida, que o som reverberava acima do barulho do vento e da chuva. Sei que deve ser díficil de entender, mas não me peça para explicar mais que isso. Não sou bom nessas coisas.

Só depois de muito tempo é que avistei mais a frente, sentado em uma pedra na beira do caminho, o responsável pela melodia: era um bardo, tocando uma lira. O estranho é que os olhos dele estavam vendados com um lenço vermelho e ele tocava como se nem percebesse a chuva que caía, acompanhando o ritmo com a cabeça e mantendo a cadência batendo o pé direito no chão cheio de terra lamacenta.

Fiquei ali parado um instante, olhando meio hipnotizado. Tentando entender porque o cara tinha resolvido tocar justo ali e pensando comigo mesmo se valia a pena interromper a música para pedir alguma informação. Achei melhor não.

Bardo ou o que quer que fosse, alguém sentado no meio da chuva, tocando lira de olhos vendados podia ser tudo, menos normal. E eu já tinha tido minha cota de loucura na caverna do velho. Era melhor continuar andando, encontrar uma estalagem, uma casa, um abrigo, qualquer lugar onde pudesse me abrigar da chuva e me aquecer.

Quando dei o primeiro passo, a música parou.

– Ei garoto – era o bardo – Tem um Tibar?

Mesmo sabendo que não tinha nada, procurei nos bolsos.

- Não. Só tenho – melhor não falar do medalhão – uma colher de ferro.

O bardo dedilhou uma sequência de notas vibrantes, como se minha resposta por si só tivesse sido um grande acontecimento.

- É melhor do que nada. Posso lhe contar uma história pela colher. O que me diz? Parece um bom trato?

Pensei comigo mesmo, como costumava fazer sempre em situações como essa. Já estava perdido, já estava molhado e duvidava muito que um dia aquela porcaria velha e enferrujada fosse servir para alguma coisa. Estendi a colher para o bardo, que a colocou em um saco de couro ao lado da pedra em que estava sentado e sorriu. Seus dedos dançaram rápidos pelas cordas da lira.

E foi esta a história que ele contou...

Cheers!

T.
PS. é...eu sei. Essa foi cruel.:)

4 comments:

Bruno DG said...

Tá muito boa essa história, vi ela agora e li as cinco partes de uma vez.
Escrevi uam também mais a sua e muito boa, me inspira a continuar a minha.
Abraços

Marlon Teske said...

Tudo bem, deixar o melhor da história pra próxima parte uma vez até eu entendo. Mas de novo?! XD

Muito dez a história Trev. Agora bora contar o que o bardo cantou.

Red_Spartan said...

Boa...dexou um ganchinho...

Agora so esperar o proximo...

xD

Luiz Carlos said...

Finalmente tomei coragem pra ler as aventuras e desventuras desse moleque como elas deviam ser lidas.

E adorei.

Narrativa muito boa, e o modo com que você adiciona termos atuais nela é genial.

Tá faltando alguma ilustração do bardo agora, né?