Yo!
Depois de um longo e tenebroso inverno, estão de volta "As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury"! Não é sensacional? O principal deste capítulo é que é o primeiro escrito 100% depois de 2005, quando escrevi os dois primeiros e boa parte do terceiro, o que me deixa muito feliz. Depois de quase seis anos, consegui tirar o pobre garoto da parte inicial do conto. Ufa!
Para quem não tem a menor idéia do que estou falando, "As Aventuras e Desventuras de Rykaard Ackhenbury" é uma série em capítulos sem periodicidade definida (por enquanto), ambientada em Arton, o mundo do RPG Tormenta.
Para ler os capítulos anteriores, basta clicar no link correspondente
- Capítulos 1 e 2
- Capítulo 3
- Sketchbook
Episódio 4
Era um daqueles momentos em que a gente tem certeza que vai morrer. Ou coisa pior. Acredite, em Arton há coisas piores do que a morte.
O caso é que mesmo para mim – um simplório garoto de apenas dez – estava bem claro que aquilo no caldeirão era sem a menor sombra de dúvidas um ensopado de coelho SEM coelho. E se algum de vocês ainda se lembra, só havia eu o velho na caverna. E aí de duas uma: ou eu era um gênio prodígio ou a conclusão era mais do que óbvia.
Mesmo assim respirei fundo e mantive o controle. Comecei a pensar em várias saídas alternativas. Eu podia, por exemplo, tentar roubar a colher de ferro e sentar com ela na cabeça do velhote. Ou dialogar racionalmente contando uma história triste e chorosa, na esperança que ele se comovosse e me livrasse do incômodo que seria - vocês sabem - morrer.
O problema é que tudo isso dava muito trabalho, exigia muita coragem e, analisando friamente, não ia dar certo. Ou seja: resolvi ser direto mesmo e ver no que dava:
- O senhor vai me comer?
O velho olhou para trás dando um gemidinho. Tinha uma ruga de surpresa saltada bem entre os olhos.
- É lógico que não! Não se come o Escolhido. De onde tirou essa idéia estúpida, garoto?
De onde eu tirei mesmo?
- Bem...se isso é um ensopado...
Parecia que eu tinha contado uma piada das boas. O velho riu alto, tremendo, as abas do chapéu balançando a cada gargalhada. Eu não entendia nada, mas ele parecia estar se divertindo bastante. Chegou a rolar pelo chão da caverna, espalhando pedrinhas e abraçando a própria barriga. Demorou um bom tempo até parasse e se levantasse limpando a roupa e retomando o fôlego
- Menino, isso não é um ensopado.
- Não?
- Não. É preciso um coelho pra se fazer um ensopado. E estamos sem coelhos.
Sim. Claro. Como se eu não tivesse percebido.
- Isso é um feitiço – continuou ele – Se você é o Escolhido, está no lugar errado. Você precisa ir para o lugar certo.
- Lugar errado?
- Sim. Existem os lugares certos e os errados. A Caverna é errada para você. O caldeirão é o certo.
- Lógico. O caldeirão – era melhor não discordar – E o que faz o feitiço?
- Leva você para o lugar certo.
Fantástico.
O velho tirou o chapéu, jogou-o de lado e passou as mãos pelos cabelos quatro vezes. Arrancou dois fios, um carrapato que havia ficado preso no dedão direito e jogou tudo no meio da mistura. A essa altura, o líquido dentro do caldeirão borbulhava, soltando uma fumaça cinza e um cheiro que lembrava muito esterco de porco. Depois se virou de volta para mim..
- Tem certeza que é o Escolhido, certo?
Claro que não.
- Claro que sim!
- Então há coisas de que precisa saber e coisas que vai precisar fazer – abriu o manto e tirou sabe-se lá de onde um objeto – Tome. Isso agora é seu.
Era um medalhão. Mas não do tipo valioso ou mágico, que você vende para o primeiro aventureiro cheio de moedas que te aparecer na frente. Era um daqueles bem vagabundos. Feito de latão, meio amassado, gasto e cheio de riscos. A corrente era grossa, longa e salpicada de manchas pretas. Antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa, o velho já tinha pendurado o troço no meu pescoço
- Este amuleto é muito importante. Agora ela é seu e você deve levá-lo até o reino de Fortuna. Não o perca. Não o venda. Não o dê a ninguém até chegar ao reino.
- E o que vai acontecer quando chegar lá?
- Alguém vai encontrá-lo.
Claro. Dessa vez eu ia pular dentro de um caldeirão, com um medalhão que servia para sabe-sel á o que, na esperança de sair sabe-se Khalmyr onde para então seguir até Fortuna e encontrar alguém que eu não sabia quem era. Maravilha. De repente, ser o tal do Escolhido não parecia tão legal.
- Como vou saber quem ele é?
O velho deu um meio sorriso.
- Ele vai saber quem você é. Venha. O feitiço está pronto. Hora de entrar no caldeirão.
É, eu sei. Nada daquilo fazia o menor sentido. E mesmo que fizesse, cá entre nós, que outra opção eu tinha? Como ia saber o que o coroa ia fazer comigo se soubesse que eu não era diabo de Escolhido nenhum? Que havia ido parar lá por mero acaso?
O que me lembrou uma coisa: onde estava Dreevack?
- Senhor? Houve outros antes de mim?
- Muitos – respondeu com uma fungada quase impaciente – Mas só há um Escolhido.
- Perdi um amigo. Seu nome é Dreevack. Achei que tivesse vindo parar aqui também.
O velho pensou, se aproximou do caldeirão e pegou novamente a colher de ferro.
- Nenhum Dreevack passou por aqui – estendeu a colher de ferro – Use isto quando chegar ao lugar certo. Vai ajudar a encontrá-lo.
Achei melhor não questionar. Segurei firme a colher e o amuleto enquanto me aproximava mais da borda do caldeirão. Tentei olhar dentro, na esperança de ter alguma noção do que ia acontecer em seguida mas o vapor não deixava ver nada. Era melhor acabar de vez com aquilo. Entrar dentro do caldeirão e me livrar do velho maluco.
O problema é que ainda havia uma pergunta me corroendo por dentro.
- O que aconteceu com os outros? Os que não eram O Escolhido?
O velho abaixou-se com um ranger de ossos, pegou o chapéu e colocou de volta na cabeça. A aba gigante fez surgir uma sombra supreendentemente assustadora sobre seu rosto.
- O que você acha? Transformei em coelhos!
Sem pensar duas vezes, pulei rumo ao desconhecido pela segunda vez no mesmo dia. E mergulhei no caldeirão.
Cheers!
T.
4 comments:
Muito bom...tomara q venha logo um quinto episodio...
^^
Muito bom, parabéns, eu estou fazendo uma história, de um personagem chamado Rondo, mas nem se compara a essa, parabens Careca!
Go pivetinho go!
Bah, achei que o Dreevack tinha virado sopa, acertei o método mas errei a vítima hoehoe
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