Wednesday, September 24, 2008

Review - All Star Batman and Robin, The Boy Wonder


Aye!

Esses dias andei fazendo um apanhado de coisas supostamente boas e recentes em quadrinhos que eu ainda não havia lido. E aí me lembrei de All Star Batman and Robin, The Boy Wonder, que tem roteiros de Frank Miller e arte de Jim Lee. Um monstro da década de 80 e o cara que redefiniu o modo de se desenhar quadrinhos (para o bem e para o mal) na década de 90. Não tinha como dar errado, certo? Pois é. Eu também achei.

Antes de tudo, é bom deixar claro que a idéia da série All Star é sensacional além de simples: figuras consagradas dos quadrinhos dando sua própria visão dos principais heróis da DC sem precisar se preocupar com as amarras da cronologia. Mantém-se o miolo do personagem, o cerne da coisa, e monta-se o resto como tiver vontade. Grant Morrison aproveitou muito bem sua chance em All Star Superman (que se encerrou na gringa este mês e sobre o qual pretendo falar em um outro post). Já o velho Frank...

Se você ouviu nosso podcast especial San Diego, já sabe o que eu acho deste Frank Miller dos anos 00: o cara cansou dos quadrinhos e virou um velho mala que se repete a cada obra. É chato, e eu rezo pra estar errado, mas cada vez mais me convenço que estou certo. All Star Batman and Robin, The Boy Wonder só confirma minha teoria, que vem desde os tempos em que a bizarríssima continuação de Cavaleiro das Trevas chegous às lojas.

Ao que parece, Miller confundiu reinterpretar com "virar de ponta-cabeça e descaracterizar até a medula". Batman é praticamente um psicopata, que rapta Dick Grayson e passa boa parte das duas primeiras edições tentando "assustar" o garoto (com direito a bofetão na cara) pra que ele se torne "um soldado". O futuro Robin, por sua vez, comporta-se como um verdadeiro adulto veterano, apesar de Miller frizar mais ou menos a cada cinco quadros que o coitado é uma criança e "só tem 12 anos". Vicky Vale, a repórter que um dia foi interpretada por Kim Basinger é uma clone ruiva de Lois Lane. Mais gostosa, graças ao traço de Lee, mas com menos classe. 

A Mulher-Maravilha aparece na quarta edição, como uma militante feminista revoltada ("Sai da minha frente, banco de esperma", diz enquanto passa por um transeunte inocente). Ela discute com Superman porque quer a cabeça de Batman. O último filho de Krypton retruca: "Maldição Diana! Dane-se sua arrogância amazona! Você não sabe de nada! Este é o MEU mundo! Este é o MEU povo! Estas são as MINHAS regras! Se você cometer assassinato na MINHA terra, irá pagar com seu precioso sangue amazona!". Na sequência a princesa o chama de bastardo...e os dois se beijam. Torridamente. A moral da história é: o que as feministas precisam, no fim das contas, é de um macho. Um homem de verdade. Ou um super homem, no caso.

Mas quer saber? Tudo isso, todas essas mudanças seriam até interessantes e condizentes com a proposta da série All Star se o texto de Frank Miller não tivesse ficado tão...tão...chato. É comum que os roteiristas usem a linguagem na primeira pessoa do presente para mostrar como Batman pensa. Nesta série, entretanto, o pensamento de todos os personagens são apresentados na primeira pessoa do presente. Vicky, Robin...menos Alfred, graças a Deus. Pelo menos não até a edição que aguentei ler.

E isso cansa. Cansa tanto quanto as repetições de expressões de efeito que Miller usava com tanta sabedoria em tempos atrás e das quais hoje abusa como um principiante. O que me deixa cansado. Muito cansado. Por quê? Porque isso cansa. Cansa muito. Deu pra entender, não deu?

No frigir dos ovos, All Star Batman and Robin, The Boy Wonder peca não só pelo que é, mas muito mais pelo que podia ter sido. 

Jim Lee - sejamos sinceros - não compromete. Pena que este Frank Miller não é o mesmo da série do Demolidor, de Elektra Assassina, de O Cavaleiro das Trevas e até dos primeiros volumes de Sin City. Se fosse, provavelmente teríamos mais uma obra prima para colocar na prateleria. 

Como não é, o espaço vai continuar vazio, a espera de dias melhores para o velho Frank.

Cheers!

T.

8 comments:

Alexandre Lancaster said...

Já eu sou da teoria que isso deve ser lido como uma sátira. Tem um texto interessante sobre isso aqui: http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/review_GABR3.cfm
E convenhamos: ver o Robin pintado de amarelo e acabando com o Hal Jordan não tem preço. Para todas as outras, existe Mastercard.

JMTrevisan said...

É um hipótese válida. Na real eu tinha pensado muito nisso quando o DK2 saiu.

O problema é que, como autor, tenho certeza de uma coisa: 90% dos subtextos atribuidos a qualquer obra estão na verdade só na cabeça do leitor.:)

E mesmo como paródia, sátira ou All Star Batman and Robin continua sendo muito, muito chato.

Wanderson Oliveira said...

Rapaz, eu já terminei de ler a série all star do Superman, e quer saber? está PERFEITO.

Apesar de não gostar do Batman vou querer ler a série dele também, por que provavelmente vai valer a pena.

e Pasme!!! estou jogando 3D&T em Arton denovo. =D

Thiago Rosa Shinken said...

Sorte sua não ter visto como ficou o Lanterna Verde ^^

Newton Nitro said...

Concordo com você, depois do DK2, o Frank não fez nada que presta.

Garrell said...

O Frank Miller virou o Batman.

Reacionário, direitista, fascistóide e inimigo do governo.

O DK2 tem boas idéias, mas a execução é lamentável. Já o Batman & Robin é só decepcionante mesmo, ao ponto de tentarem justificar o fracasso do Miller.

Já o Superman All Stars é uma das melhores séries que já li, e meu trampo favorito do Grant Morrison. E olha que pelo background de mago urbano dele, tinha um potencial muito maior de fazer um quadrinho chato...

Abs,
r.

Soneca said...

Já eu acho que All-Star Batman é o melhor gibi publicado pela DC (quando sai) - assim como Superman do Morrison é o exemplo perfeito do porquê hoje os comics serem apenas um mero nicho para gordinhos nostálgicos de meia-idade, Batman do Miller é uma demonstração do quão divertido e sem-noção poderiam ser (porra, é um gibi sobre um milionário que se veste de Morcego e sai por aí chutando bundas de criminosos na cidade mais corrupta do mundo - eu diria que SÓ Frank Miller sabe caracterizar o Batman) - a Liga nesse gibi é DE LONGE muito melhor que a versão insossa atual; tanto a Maravilhosa quanto o Homem-de-Aço são personagens interessantes aqui, algo que não se vê há algumas décadas; e a cena com o Hal Jordan é a coisa mais divertida a ser publicada por uma editora americana este ano.

Alexandre Lancaster said...

Concordo com o Soneca quanto ao material do Morrison. Ele é o pior da DC de hoje amplificado a um "estado-de-arte" – o quadrinho que vive da nostalgia do seu passado. É a apologia do retrógrado feito por alguém que sabe ser altamente progressivo quando quer.
E querem ler o que é o passado tão brilhante que esses caras saúdam? Peguem aquele tijolão da liga da justiça da era de prata em preto e branco. Tedioso, formulaico, pasteurizado e repetitivo.