Howdy!
Uma das partes que eu mais gosto dentro do cenário de Tormenta é a Aliança Negra. É legal saber que, pela insistência do povo que pede um suplemento à respeito e pela dedicação da galera que produz material próprio, esta faceta de Arton também é a preferida de muita gente.
Existe uma pá de coisa relacionada ao terrível exército comandado por Thwor Ironfist que me atrai. Curiosamente, o único texto meu que trata de algo diretamente ligado a ele (tirando os textos descritivos dos Guias) é o conto "O Cerco". E mais nada.
Há muito tempo, muito antes de "O Inimigo do Mundo", comecei a escrever algo que eu imaginava que um dia podia se tornar um romance. E a história, embora não se prendesse somente a isso, esbarrava em Khalifor em seu perído pré-queda. Pena que eu imaginei errado e o texto não virou sequer um conto (mas tá aqui no meu HD, devidamente guardado).
Além desse texto havia um outro que cheguei até a postar na Lista Tormenta, se não me engano. Uma espécie de micro conto relatando a última investida do exército de Lenórienn contra a Aliança Negra, narrada do ponto de vista de Khinlanas, o rei élfico. Alguém se lembra disso?
Pois bem. Ontem, fuçando nos meus arquivos resolvi ressuscitar esse texto e dar uma recauchutada no danado. E como faz muito tempo que não posto nada aqui que tenha relação direta com Tormenta, resolvi mostrar o resultado pra vocês.
Quando, inevitavelmente, um suplemento sobre a Aliança Negra sair, é muito provável que este seja o conto introdutório.
PS. não liguem para o título. Foi a única coisa que me veio na cabeça.
Eyes of a King
Khinlanas, o Eterno, olhou fixo para o campo de batalha ao longe. Com um gesto, ordenou que a linha de soldados à sua frente permanecesse imóvel.
Dali, não conseguia ver ou distinguir muita coisa. Era apenas um amontoado de guerreiros, sangue, armaduras e espadas chocando-se incessantemente. Vez ou outra uma bola de fogo ou o flash de um relâmpago. Um inferno vermelho e verde que parecia não ter fim.
"Séculos de estudos e disciplina" - pensou o rei dos elfos - "E agora nos resumimos a isso ".
As torres, os palácios, tudo o que havia de mais belo na cidade de Lenórienn havia sido destruído pelas grotescas catapultas hobgoblins. As árvores queimavam e tombavam, espalhando suas chamas inclementes pela floresta e levando consigo os inocentes que encontrava pelo caminho. Eram como enormes piras sacrificiais enviando as almas dos elfos mortos para sofrer no reino de Ragnar, deus da morte e dos goblinóides.
Em toda a história de Arton, nunca um regente havia defendido tanto a superioridade e o orgulho dos elfos quanto Khinlanas. Para ele, a tão temida Infinita Guerra travada contra os hobgoblins era nada mais que um leve incômodo. A vitória era apenas uma questão de tempo.
- Somos os filhos de Glórienn – discursava em meio a taças de vinho nos luxuosos banquetes da nobreza – Somos sua espada, seu arco e sua flecha. Somos os escolhidos. E nada nos fará tombar!
O conflito se arrastou por séculos e séculos sem nunca pender para nenhum dos lados. Ainda assim, o sentimento que pulsava dentro de Khinlanas era o mesmo: mais cedo ou mais tarde, as forças élficas esmagariam o inimigo. Uma raça infeliz de pobres diabos cuspidos em Arton por um deus inconsequente.
O fim da guerra e o extermínio dos hobgoblins certamente tornariam o continente de Lamnor um lugar melhor. O triunfo dos elfos faria com que mesmo os humanos – que haviam virado-lhe as costas, confundindo sua sensatez com arrogância – se curvassem.
Somente com a chegada de Thwor Ironfist, o dito campeão de Ragnar previsto em uma obscura profecia bugbear, a balança finalmente pendeu. Enviado divino ou não, o monstruoso general conseguiu fazer o impossível: uniu as tribos goblinóides sob sua bandeira e esmagou os que se recusavam a marchar com ele.
Afim de conquistar a lealdade dos hobgoblins, Thwor invadiu Lenórienn sozinho, sequestrou a própria filha do regente élfico e deu-a de presente ao líder de seus eternos inimigos.
“Minha filha” – pensou cerrandos os punhos – “De dentro do meu palácio.”
O ato selou a formação da Aliança Negra. Um exército monstruoso e quase infinito composto de criaturas bárbaras e disformes cercando Lenórienn. Como o regente havia previsto em um passado distante, era mesmo apenas uma questão de tempo até que o conflito terminasse.
Khinlanas sabia que teria mais chances se mantivesse suas forças dentro dos limites da cidade. Se todas as energias direcionadas ao conflito fossem utilizadas para manter a defesa – e apenas isso – Lenórienn resistiria.
Mas a raça dos elfos jamais viveria acuada. Não enquanto ele reinasse.
Khinlanas ordenou o ataque total contra as forças goblinóides. Milhares e milhares de elfos marcharam e cavalgaram atravessando os arcos do portão principal da capital élfica, bradando desafios, insultos e preces. Do outro lado, uma força descomunal de fúria selvagem aguardava impaciente.
Khinlanas baixou a cabeça por um instante, os olhos fechados, pensativo. Aos poucos aprumou-se novamente. Com o olhar frio e o ar altivo que haviam lhe acompanhado durante toda a vida, ordenou que seus comandados avançassem.
Eram seus cavaleiros de elite. Os guerreiros mais nobres de Glórienn. A última linha de defesa de Lenórienn. Todos partiram reluzentes em suas belas armaduras prateadas. Desta vez não houve brados, nem insultos e nem preces. Lanças e espadas se erguiam refletindo o dourado do sol de Azgher.
Em instantes, só restava partir o próprio Khinlanas.
Desde que ouvira as primeiras histórias sobre Thwor Ironfist, o regente soube que não havia mais esperanças. Que logo Thwor Ironfist precisaria das máquinas de guerra hobgoblins e que – para isso – os elfos teriam que cair. Soube que muitos morreriam antes disso e que, no fim, ele próprio teria uma morte cruel e dolorosa. Soube que sua cabeça viraria um precioso troféu que minaria a confiança dos poucos elfos que restassem e que se tornaria o estandarte maior da vitória goblinóide.
Mesmo assim não se importava.
Durante todos aqueles anos, não lhe faltaram planos e alternativas de fuga capazes de salvar parte de seu povo antes que a catástrofe acontecesse. Uns ele mesmo havia elaborado. Outros haviam lhe sido propostos por conselheiros ou apresentados por rebeldes pacifistas. E Khinlanas recusou-se a colocar qualquer um deles em prática.
Preferia morrer, condenar sua própria raça e sofrer uma eternidade de torturas no reino do deus de seus inimigos a viver e admitir que os elfos, enfim, não eram superiores a ninguém.
Com um firme puxão de rédeas, Khinalanas cavalgou veloz em direção ao campo de batalha. Espada em punho, de encontro à morte.
Cheers!
T.
11 comments:
Muito legal o conto, Careca. E "inevitavelmente sair", hein? Lendo isso, só posso pedir que dê uma lida, com carinho, no material que o pessoal postou no Projeto Aliança Negra lá no fórum da Jambô.
Tem um material bastante interessante lá.
Só duas pequenas correções:
"Durante todos aqueles anos, não lhe faltaram, planos e alternativas de fuga capazes de salvar parte de seu povo antes que a catástrofe acontecesse."
-> Essa vírgula entre 'faltaram' e 'planos' está sobrando, elimine-a.
"Espada em punho, de encontro à morte."
-> Se ele estava cavalgando em direção à morte, como é o caso, você deveria usar 'ao encontro da morte'. Da forma como está, ele está contra a morte, e não à favor dela. (Não sei se você me entendeu...)
PS.: Li um post seu no fórum da Jambô sobre um comentário do Cassaro sobre a grafia da palavra "viagem". O problema é que "viajem" também existe: 3ª pessoa do plural do presente do subjuntivo, "Que eles viajem". E não sou professor de português... :P
Muito Bom careca!
O Conto está bem legal, mas se tivesse aparecido um ou outro elfo morrendo, eu ficaria mais feliz :)
Parabéns!
Muito legal!
Esse conto contrariou o que eu sempre imaginei: o rei morrendo dentro da cidade, na verdade dentro do palácio. Apesar de ele nunca ter sido descrito em lugar nenhum, nunca o imaginei como um guerreiro morrendo em batalha...
Boa surpresa!
Muito style, Trevisan! E que 2008 seja o Ano da Aliança Negra! xD
Sobre Khinalanas, acho que ele quis morrer com honra, e se provou mais tolo do que eu já achava que ele era. Puts, que orelhudo arrogante.
Sempre quis vê uma batalha élfica em Arton. Tipo, um exército frio, disciplinado e silencioso contra uma horda bestial goblinóide! Muito massa! xD
Abração!
Muito bom Trevisan. Ótimo conto.
Show de Bola,mr Trevisan!Ver trabalhos como esse renovam o animo da galera do projeto Aliança Negra,e traz inspiração.
Isso é conto, pessoal.
Objetivo, a trama contida e direta, a ação rolando.
E muito bom, Careca!
;)
Ae, muito legal o conto.
Pergunta: Quando um elfo morre a alma dele não vai pro Reino de Glorienn? Nunca consegui entender porque as almas dos elfos foram pro Reino de Ragnar.
Bom, se isso foi porque Glorienn abandonou os elfos(?!?) como é que o Khinlanas saberia disso? E porque raios Glorienn deixaria suas criações abandonadas?
Maneiro o texto, Trevisan.
Parabéns.
Bom conto!
Orgulho e arrogância são apelidos. Ninguém merece um regente desses.
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