Friday, April 18, 2008

Diário de uma Trilogia: Episódio 2b

Hey!

Eu nem tava sabendo, mas no dia 2 de abril, para compensar todas as molecagens que fizemos com os fãs de Tormenta, o Leonel colocou no fórum da Jambô um preview (100% true) do novo romance.

Como lá a coisa tá bem escondida, resolvi colocar aqui também (mesmo imaginando que muitos de você já leram a parada).


"Os dois dragões vistos antes cruzavam o azul forte do céu, respingando sangue nos telhados. Um deles perdia altitude, batendo asas de couro (agora furado) em desespero e, quando chegou muito perto, pôde-se ver terror em seus olhos de fera. O outro não estava tão ferido, mas descreveu um arco largo para voltar ao primeiro, espalhando um semicírculo de gotas vermelhas.

Ao redor, os caçadores.

Montados em pequenos lagartos escamosos e alados — semelhantes a dragões apenas nisso —, investiam com lanças cheias de rebarbas, manguais com correntes de vários metros. Disparavam flechas, que pipocavam no couro grosso dos dois dragões, surgindo às dezenas. Eram sete ao todo, e coordenavam-se sob as ordens de um, que fazia-lhes sinais em uma espécie de coreografia pré-determinada.

Com três batidas colossais de suas asas, o mais ferido dos dragões espalhou poeira e gente ao chão, e ganhou o céu de novo. Seu esgar podia ser rosnado e podia ser choro. A cada batida, escalava o ar um pouco, parecendo ficar mais leve, a trajetória mais fácil. Todo empinado, já dardejava para o alto, logo acima da praça, quando os caçadores agiram.

Dois cruzaram, à sua frente e costas, nos velozes dragonetes. Arremessaram enormes redes, que se desdobraram em pleno ar, enredando a fera. O dragão debateu-se, mas uma de suas asas estava presa. Começou a despencar, em um instante estaria no chão. Mas dois outros caçadores encontraram-no antes disso, as lanças com hastes compridas perfurando-lhe couro e carne. Um som enojante de rasgo, e os caçadores largaram as hastes, que sacolejavam, presas no dragão.

O solo tremeu com a queda.

Flechas cravadas, ferimentos sem fim e duas lanças que dilaceravam mais com cada movimento. Preso por redes, o dragão estava indefeso. Os homens de prontidão na praça puseram-se ao trabalho: prenderam seu pescoço, ombros, peito, abdome e cauda nos arcos de metal, fecharam as trancas. Uma dupla forçou-lhe uma focinheira, e logo a criatura não era mais que um troféu.

O povo explodiu em vivas. Do outro dragão, veio um urro. Já sem preocupação por sua própria segurança, o monstro investiu com fúria indignada — não contra os caçadores, mas contra que podia matar às dúzias. O povo.

Para o espanto dos três forasteiros, os cidadãos recuaram rindo, dançando, em saltinhos. O dragão abriu a boca, e um brilho amarelo começou em sua garganta, prenunciando uma baforada letal. Mas, como se fosse combinado, um caçador surgiu num borrão, enfiando-lhe a haste da lança pescoço adentro. A fera tossiu eletricidade, atrapalhou-se com suas asas, e dois inimigos desceram para a matança. Giravam os imensos manguais, bolas de ferro repletas de espinhos, presas por correntes de vários metros. Armas lentas, mas dotadas de força descomunal, pelo longo arco que faziam. As duas bolas metálicas bateram contra o crânio do dragão, primeiro fazendo apenas uma chuva vermelha, depois afundando osso. A criatura ainda voejou, incerta sobre morrer ou não, e foi logo presa em outra rede. Mole como um boneco, o dragão também foi fixado aos aros de metal, trancafiado e seguro.

A multidão gritou de felicidade.

— Dois prateados — murmurou Orion. — Khalmyr, são dois prateados.

Ingram segurou o braço do amigo, incerto do que pensar. Dragões prateados eram raros, mesmo entre dragões. Eram também dotados de pureza e nobreza instintivas. Criaturas de verdadeira bondade, como só poderia existir em feras mágicas. Por um lado, pensava o anão, seria tolice suicida interferir agora. Por outro, era bom ver Orion sentindo-se indignado por aquilo.

Anão e cavaleiro trocaram olhos furtivos e um sinal mudo. Os acontecimentos borbulhavam em Ghallistryx, e Ingram escapou-se, para as ruas atrás, indo dar início às preparações.

A multidão voltou a se acomodar, após o susto. Acenou em efusão aos caçadores, que fizeram acrobacias sobre seus dragonetes. Um povo calejado.

Mesmo presos, os dois dragões exalavam intimidação. O primeiro a ser capturado tinha olhos de tristeza infinita, olhando os humanos em sua horda, como se não entendesse a razão. O segundo parecia alheio, como se os golpes na cabeça tivessem-lhe mergulhado em uma espécie de estupidez misericordiosa.

As portas do palácio se abriram.

A inquietação aumentou de súbito. Um medo ainda maior. Não apenas medo da morte, mas uma sensação de indiferença, insignificância. Algo enorme poderia atravessar aquelas portas. Mas o que surgiu foi um homem.

Um elfo, esguio, alto e belo. Longos cabelos vermelhos, uma cicatriz cruzada arruinando-lhe o olho esquerdo. Um mortal. Assim era a forma que Sckhar, rei de Sckharshantallas, usava para se mostrar ao povo.
Sua presença era forte demais, perturbadora demais. Se antes o povo de Ghallistryx soubera se controlar, agora fraquejavam. Não fugiam — os mais fracos, ao contrário, tentavam ir de encontro, e eram detidos. Alguns desmaiavam, de emoção ou êxtase. Muitos ajoelhavam-se, chorando como crianças. Sckhar não era apenas um rei amado; era adorado. E não apenas rei, era adorado como deus. O que os estrangeiros presenciavam era uma epifania religiosa, um momento sublime para aquela gente. E por mais que tentassem, não podiam — não podiam — olhá-lo nos olhos.

— Meu povo — disse o rei."


Cheers!

T.

3 comments:

Cássio said...

Oba! Mais dragões no novo romance! E mais personalidades também!
Já que o verdão se classificou pra final do paulistão, poderia sair mais um preview...

Snake said...

Pois é, poderia mesmo sair mais um ^^

Se bem que quinta-feira, Trevisan, o Palmeiras vai levar uma pisa do Sport \o/

Mauro Garcia said...

Dragões *.*

Eu amo dragões [ainda bem que só eu né...]