Yo!
É quase o fim da temporada de trampos do mês (ou quase isso), mas finalmentejá posso voltar ao blog (eu diria aos blogs, mas ainda é cedo). E não foi fácil passar esses quase quatro ou cinco dias afastado. Depois que a gente acostuma a postar com frequência, acaba viciando na coisa. Quando não estou me matando em algum freela, acabo passando a maior parte do dia quebrando a cabeça pensando em algo interessante para escrever.
E como vocês devem ter percebido, ultimamente tenho ficado bem longe dos textos de ficção. Ultimamente, na verdade, é bondade minha. Faz um bom tempo. Tipo, anos... com pequenos e esparsos momentos de produtividade. A razão de tudo isso? Não sei. Ou melhor, sei em parte, mas não ia acrescentar nada na vida de ninguém me ouvir reclamar. Desde o início prometi pra mim mesmo que isso aqui nunca ia virar um daqueles blogs do tipo "hoje fui ao jardim e vi uma flor. E percebi como a gente dá pouco valor para os pequenos momentos da vida. Então uma borboleta pousou e blablablablabla".
O caso é que esses dias tive um espasmo criativo. E como a grande vantagem de ter um blog é ter um povo sempre atento ao que você faz (nem que seja pra descer a lenha), melhor eu colocar por aqui pra que o povo leia do que deixar confinado nos porões dos diretórios do meu micro.
O texto é bem curto e de certa forma foi inspirado por (e escrito em homenagem a) um amigo e uma amiga que não se conhecem, mas estão passando por situações relativamente parecidas. Tem também (acho) um tom otimista, coisa rara no meu repertório de contos e roteiros.
É sempre igual. Todas as vezes.
Eu me levanto, as pernas trançam, o prato voa da minha mão. Os grãos de arroz voam também, em uma coreografia aérea meticulosamente ensaiada. O copo fica firme na mão direita em uma espécie de teimosia inanimada.
A faca e o garfo caem primeiro, tilintando em ecos pelo chão da cozinha. Depois é o prato, que se despedaça em mil cacos. Então a mão com o copo desce, tentando proteger o corpo que cai em seguida. O copo quebra e rasga pele, carne, tendões. Os cacos voam, a luz reflete os pedacinhos como pequenos brilhantes de segunda categoria. A cabeça bate no chão, o supercílio abre, o sangue jorra. O joelho tomba sobre um caco pontudo e também rasga. Há uma dor aguda e eu apago.
Mas eu menti. Não é sempre igual.
Às vezes é um carro que passa o farol vermelho, buzina e eu não ouço por causa do som do último álbum do Metallica explodindo nos fones do meu ipod. Às vezes é uma dor de cabeça pulsante que aumenta e aumenta enquanto o repórter dá as esclações dos times na TV, antes do jogo. E às vezes eu não sei o que é, porque vem durante o sono, sem que ninguém perceba até que seja tarde demais.
Mas é sempre comigo. Sou sempre eu.
Porque é mais fácil entender quando acontece com a gente. É mais fácil encarar. É mais fácil ir embora da festa antes que ela acabe. É muito mais fácil que ficar sozinho no salão vazio, depois que todos vão embora.
O problema é que quando a gente vai, ou quando a gente deixa que a inércia nos leve junto porque alguém ou algo se foi, há sempre alguém que fica sozinho por isso. Alguém que sente a dor que devia ser sua. A dor que devia ser minha. Por sua causa. Por minha causa.
É por isso que minhas pernas não trançam, os graõs de arroz não voam e a luz não reflete os pedacinhos do copo como pequenos brilhantes de segunda categoria. É por isso que ouço a buzina e deixo que o carro passe. É por isso que a dor de cabeça não vem. E é por isso que depois de um sono tranquilo, acordo no dia seguinte para mais um dia de sol.
Cheers!
T.
PS. acabei notando uma certa influência "caldélica" em alguns pontos da narrativa. Maldito autorzinho gaúcho...
6 comments:
Caramba Trevisan, quando teremos um livro de ficção seu de Tormenta? O povo pergunta
Melhor esperar sentado, com uma garrafa de Jack Daniels na mão um balde de gelo do lado...
Cheers!
T.
"JMTrevisan said...
Melhor esperar sentado, com uma garrafa de Jack Daniels na mão um balde de gelo do lado..."
Bem, isso vai terminar numa bela duma cirrose e uma dor desgraçada no traseiro xD~
Anyhow, muito bom. MUITO bom. E o pior é essa mania de sempre que leio um conto teu, eu paro e penso na vida? No momento, isso tá me fazendo mal >_<;
E só pra dizer que eu sou um chato de galocha: Trevisan, meu e-mail com meu endereço chegou? Meu Alpha tá vindo? Meu grupo de RPG tem uma faca e uma vontade enorme de usar meu Manual. Ou talvez só vontade de usar a faca...
Cyaz!
Puxa-saco. :P
provavelmente vc nem vai ver esse coment pq o post eh velho, e provavelmente eu estou escrevendo a toa, mas dane-se! Trevisan vc escreve mto bem, bem d+, vc e o Leonel escrevem do jeito que eu quero escrever, crus, causticos e empolgantes *-*
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