Monday, May 26, 2008

No Time For Love, Dr. Jones!

Oy!

Há mais de 20 anos, quando videocassete era um negócio bizarro e caro que a gente comprava em esquema de consórcio ou de um primo que trazia muamba do Paraguai, assisti "Indiana Jones e o Templo da Perdição" pela primeira vez. E pelo que lembro esse foi meu primeiro contato com o arqueólogo do chicote.

Sim, "Caçadores da Arca Perdida" veio antes, mas naquela época os pais ainda tinham controle absoluto de seus filhos, e graças à famosa cena do alemão derretendo, os meus achavam que o filme era um pouco demais para um pirralho igual eu. Quando a cena do coração palpitante surgiu na telinha do televisor, ninguém se preocupou se a molecada da família estava vendo ou não. Afinal, tínhamos um videocassete e isso era o que importava.

Daí pra frente Indy se tornou um dos grandes heróis da minha infância e tanto o personagem quanto Harrison Ford representavam o ícone máximo do cara foda, divertido e virtualmente invencível.

Foi alimentado por esta imagem que entrei no cinema para assistir "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal". O que eu esperava era ver Indy dando chicotadas, pulando pra lá e pra cá, enfrentando todo tipo de ameaça que a Guerra Fria pudesse atirar sobre o coitado ignorando completamente suas seis décadas de vida. Afinal, heróis não se fragilizam. Heróis não envelhecem. Nossos heróis de infância são mais do que humanos. Certo? Certo?

Quem viu o filme sabe que as coisas não funcionam bem assim. Harrison, Spielberg, Lucas, Indy e o mundo envelheceram. E ao invés de ignorar o fato para agradar a nós, nostálgicos incorrigíveis, todos eles resolveram assumir os cabelos brancos sem o menor constrangimento.

O que se vê na tela é um herói com a mesma força, mas sem a auto-suficiência carregada de testosterona dos outros três filmes. Indiana ja viu de tudo, já fez de tudo e sabe de suas limitações. O papel que era dele agora cabe a Mutt, o personagem de Shia LaBeouf. O bastão trocou de mãos, e o antigo dono não parece nem um pouco preocupado ao assumir seu posto de coadjuvante. Muito pelo contrário: Indy parece muito satisfeito.

A sensação inicial que tive ao ver "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" foi a de frustração por ver que meu herói de moleque já não era o mesmo. E que, por tabela, eu também não era. Foi uma daquelas ocasiões em que a gente vê nítidamente o tempo passar. Como quando alguém da turma se casa ou tem um filho, quando seu ídolo no futebol pára de jogar e vira técnico ou quando você percebe que sua banda favorita acabou há 14 anos.

Mas essa é só a primeira impressão. E ao contrário do que diz o ditado, neste caso, não é ela quem fica.

O que permanece de verdade depois da última aventura do Dr. Jones, é a lição de que o tempo é mais do que benéfico. Nossos heróis se fragilizam. Nossos heróis envelhecem. Nossos heróis de infância são humanos. Como nós. Certo?

Certo.

Cheers!

T.
(por um mundo com resenhas sem spoilers)

4 comments:

Douglas MCT said...

Indy pula conteineres de um lado pro outro; Chicoteia pra todos os lados; Usa seu cinismo e sarcasmo tão magnificamente como antigamente; Faz cenas incríveis no clímax da perseguição dos jipes; Foge de uma explosão nuclear/atômica (sei lá :P) dentro de uma geladeira... e vc ainda diz que 'ele não é o mesmo'.

Owww Careca... q o tempo passa e todos envelhecem eu concordo plenamente e um filme refletir isso de forma honesta (como esse 'caveira' fez) é muito melhor do que manter uma imagem 'irreal' da realidade do nosso querido herói.
A única 'aceitação' do fato-velhice no filme é quando Mutt pergunta ao Indy se ele tinha 80... mas isso é pra soar cômico, em 'cores' e não melancólico ou 'cinza', saca?

E Mutt, em q momento é a estrela da película? Quando imita o Tarzan ou quando dá um soco num playba dentro do bar? Ele é o 'alívio cômico' da trama, isso sim e, tb, a 'evolução natural' do personacem e todo seu universo.

Afinal como o final deixou previamente claro, ele já pretende ser "o novo Indy", mas q nosso real herói ainda não pretende 'entregar' seu chapéu e chicote tão cedo... (ainda que George Lucas o queira, pra 'renovar' a franquia).

Mas eu concordo com a platéia da sala em q vi o filme na sexta: aplaudimos em pé nos créditos e faria isso novamente. Um filme a altura da trilogia, de fato. ;)

Danilo Martins said...

Esse tipo de coisa me deixa com medo do tempo...

Edu Mendes said...

Fala, Mauro.
Como você é o cara que eu conheço que é mais fanático por Lost, passei aqui pra te deixar links de dois vídeos:

Finais alternativos ( com direiro a spoiler)- http://nymag.com/daily/entertainment/2008/05/lost_see_the_alternate_endings.html

e

Pra dar umas risadas- http://www.youtube.com/watch?v=u3PYW9yutKo

José roberto Vieira said...

Entendo perfeitamente Trevisan... comecei a ler a Dragão Brasil quando Lobisomen e Vampiro ainda eram raridade; e "advanced dungeons & dragons" não passavam de um mítico jogo.

Foi mais ou menos a mesma sensação de ver um comercial de "cremogema" ou "d.d. drin" na televisão....