Thursday, January 24, 2008

Presente de Aniversário: Randar Axeblade

Ae!

Well, hoje é meu aniversário (parabéns pra mim, muitos anos de vida, obrigado, obrigado). E como sei que não vou ganhar porra nenhuma, resolvi dar um presente pra vocês.

Lembram quando eu falei sobre um conto que tinha um trecho que se passava em Khalifor e tudo mais? Pois é. Separei esse pedacinho da história para vocês. Não é muito, mas pelo menos dá para sentir como era Ghallen Forandi, o Conselheiro-Mór da cidade-fortaleza. E apesar do pouco convívio, gostei muito dele.

Mexi pouquíssimo no texto, que é bem antigo. Portanto não me torrem o saco com minúcias, ok? :)

Divirtam-se (assim espero)


Randar Axeblade

Ghallen Forandi olhou pela janela pela décima vez e contemplou as ruas de Khalifor, a cidade-fortaleza. Havia assumido a liderança do Conselho da cidade há mais de dez anos, mas mesmo assim não conseguia se acostumar com o peso do cargo.


Era um homem de ação. Um soldado pouco afeito às intrigas e intempéries a que se submetem os governantes. Tinha conquistado sua atual posição justamente em batalha, ao proteger Khalifor virando manualmente e às pressas na direção sul uma catapulta originalmente contruída para atacar o lado norte. Foi assim que a cidade-fortaleza se defendeu da primeira investida de um pequeno contingente do exército de Thwor Ironfist, o general bugbear.

Preferia mil vezes estar à frente dos poucos batalhões de batedores que visitavam vez ou outra os territórios tomados pelos goblinóides arriscando suas vidas quase todos os dias do que sentado numa cadeira, protegido pelas imensas muralhas, tomando decisões burocráticas que de pouco adiantavam na atual situação.


Paciência. O que mais podia fazer? Era responsável pelo seu povo. Talvez os últimos sobreviventes da ilha continente chamada Lamnor. Podia não estar à frente das tropas, mas era ele e seu exemplo quem mantinham a moral do exército. Mas até quando?


Aos poucos seus pensamentos retornaram ao problema que enfrentava no momento. Não havia sequer dormido na noite anterior. Embora a maioria dos soldados mantivesse o bom humor e a perseverança, alguns poucos já tinham demonstrado abertamente alguma vontade de desistir. Uns poucos haviam abandonado as tropas, fugindo para o continente norte, tentando esquecer os horrores trazidos por uma guerra que não havia sequer ainda começado. Alguns, entretanto tinham reações mais drásticas.


Há quatro noites um destes casos havia acontecido. Um experiente soldado abandonou Khalifor. Parte de seus companheiros tentou impedi-lo. Uns tentaram conversar, outros partiram para atitudes menos nobres chamando-o de traidor e desertor. Para estes não houve chance alguma. Quando ele, comandante de uma das maiores tropas do exército de Khalifor, abandonou o quartel da cidade-fortaleza, cinco corpos haviam sido deixados pelo caminho. Em sua maioria soldados rasos, ansiosos para descontar com justificativa os meses de rígida ordem a que eram submetidos.


O que preocupava Ghallen não era apenas o comportamento estranho do comandante. Havia visto esse tipo de coisa antes em outros tempos. Velhos soldados tendem a perder a razão depois de muito tempo no campo de batalha. Às vezes a enorme quantidade de mortes e a falta de esperança tornam-se um fardo muito maior do que a mente humana é capaz de carregar. O que realmente chateava o Conselheiro-Mor de Khalifor era que não se tratava apenas de um soldado de rica experiência, força e conhecimento. Tratava-se de um amigo.


Ambos haviam entrado juntos para o exército da cidade, numa época em que a guerra era não mais que uma lembrança distante na mente dos artonianos mais velhos. A repentina ascenção de Ghallen os distanciou. Enquanto o novo conselheiro se acostumava com as tarefas que o poder exigia, o outro continuava como um soldado comum, subindo pouco a pouco nos rankings militares sem jamais alcançar as posições que realmente merecia. Em Khalifor, como em qualquer lugar de Arton, a política tinha um papel muito mais presente que a justiça. O conselheiro já havia perdido a conta de quantas vezes havia sido obrigado a indicar jovens nobres e incapazes para posições de destaque tanto do exército quanto do Conselho quando havia pelo menos duas dúzias de oficiais humildes, esforçados e muito mais capacitados merecendo uma chance melhor na vida. Infelizmente, no mundo real este tipo de coisa não acontecia. Ele mesmo havia sido uma exceção, um caso extremo. Quando rechaçou praticamente sozinho o grupo de batedores de Thwor, o povo exigiu sua presença no Conselho. E como sabe qualquer governante com o mínimo de experiência, recusar a vontade do povo é oferecer a própria cabeça numa bandeja.


Do mesmo modo que Ghallen havia sido carregado nos braços do povo, o desertor havia sido condenado. No espaço de poucas horas a história do soldado que havia traído seu próprio povo, deixado a cidade e assassinado ex-companheiros espalhou-se pela cidade. Membros do Conselho passaram a exigir medidas drásticas. Alguns sugeriram a execução imediata do homem. Sem saída, o Conselheiro-Mor prometeu uma resolução para o fato ainda naquela manhã.


Sua idéia era que alguns soldados de confiança partissem em busca do fugitivo. Com a tempestade de neve que caíra nos últimos dias, dificilmente o homem chegaria além da fronteira com Remnor. Amigos, pessoas capazes de trazê-lo de volta sem ferimentos possibilitando que a versão do ex-comandante fosse ouvida.. Talvez desta forma Ghallen pudesse amenizar a pena, salvando a vida do amigo. Neste momento, Hord Slender, um jovem de família nobre que servia como seu principal conselheiro e segundo em comando devia estar conversando com os soldados que Ghallen havia indicado.


Como que adivinhando seu pensamento as portas da sala se abriram. Hord entrou fazendo uma antiga reverência militar que indicava respeito. Um falso respeito, naquele caso. Até as criaturas das mais estúpidas e vis do Ístmo sabiam que o jovem cobiçava a posição de Ghallen. Rondava sempre o Conselheiro-Mor, como uma ave de mau agouro. Mesmo assim, era eficiente em sua função e inteligente o suficiente para não cometer nenhum deslize que o comprometesse irreversívelmente.


Ghallen levantou-se de súbito, aproximando-se do rapaz.


- E então? Fez o que mandei? A expedição já está a caminho?


Hord baixou a cabeça e engoliu em seco.


- Sim e não. Senhor.


Fez-se silêncio na sala. O Conselheiro-Mor olhava fixo para o subalterno que aguardava, talvez, uma reação mais extrema. Hord continuou mais pela vontade de quebrar o mórbido silêncio do que de revelar o que havia ocorrido.


- Nenhum dos soldados aceitou a proposta, senhor. A vontade do povo e a dos soldados é a mesma. Todos querem a execução do traidor.


Ghallen Forandi voltou-se para janela. A essa altura a neve já havia parado de cair. As pessoas, os cidadão de Khalifor deixavam suas casas e iam para as ruas retomando aos poucos seus afazeres.


- Então...não há expedição alguma?


O segundo em comando pigarreou. Quando voltou a falar, sua voz era firme como a de um chefe da guarda que anuncia a chegada de um rei. Seus olhos, entretanto, evitavam os do Conselheiro-Mor.


- Há sim senhor. Partiu há meia hora atrás.


Ghallen virou-se de súbito. Suas mãos calejadas e grossas, herança dos tempos de soldado, agarraram o colarinho do jovem nobre lavantando-o do chão sem o mínimo esforço. Seus olhos faíscavam como uma nuvem de tempestade. Sua voz, no entanto, soava baixa e inalterada.


- De quem foi a ordem?


Hord não se abalou. Ou pelo menos fez o possível para não transparecer o frio que lhe passava pela espinha. Uma fina gota de suor escorreu pela testa do jovem, caindo na mão esquerda do Conselheiro-Mor. Respirou fundo e, quando sua voz finalmente saiu, parecia mais um sussurro.


- Eu ordenei, senhor.


Ghallen soltou o jovem nobre como se fosse um boneco de pano e virou-se de costas.


- O que queria que eu fizesse? Que esperasse até que o povo invadisse o Conselho exigindo a execução? Não podemos correr o risco, Ghallen! Sei que eu e você podemos-


O Conselheiro-Mor virou-se novamente. Em seu rosto um olhar de amargura e um leve sorriso de desdém.


- Eu sei o que você quer Hord.


- O que quer dizer?


- Sei que você não se importa nem um pouco com o que penso, ou o que faço. Tão pouco com meu bem estar. Muito pelo contrário para ser sincero.Todos sabem que na sua mente mesquinha e inexperiente meu lugar é seu por direito. E eu realmente não ligo, garoto. Abriria mão deste cargo e lhe daria de muito bom grado se pudesse. Mas não posso. É meu dever governar Khalifor até que o Conselho e o povo decidam o contrário. Quer você queira quer não.


Houve uma pausa, um silêncio quase opressor na sala. Hord permaneceu parado, os olhos faíscando, os punhos crispados num gesto de raiva contida.


- Só quero que me responda uma coisa: quem partiu na expedição? Quem foi encarregado da captura de Randar Axeblade?


Hord não disse uma palavra. Apenas caminhou lentamente, tirou do bolso uma pequena algibeira e deixou-a sobre a grossa mesa de madeira.. Feito isso, cruzou a sala novamente e saiu pelas portas duplas pisando firme, como se esta fosse a melhor resposta que pudesse dar.


Longe da influência negativa do jovem conselheiro, Ghallen se permitiu relaxar. Sabia que mais cedo ou mais tarde o garoto acabaria causando problemas. Hord era como um cavalo selvagem e inquieto que precisava ser domado vez ou outra. Desta vez, entretanto, o cavalo havia pulado a cerca. E trazê-lo de volta não seria nada fácil.


Intrigado, Ghallen esticou o braço e pegou a algibeira, abrindo-a lentamente. O que viu deixou-o paralisado por alguns momentos. Era um anel negro com um símbolo gravado. Um crânio. Neste mesmo momento um pensamento lhe abateu como um murro no estômago.


Randar Axeblade jamais retornaria vivo a Khalifor.


Cheers!
T.

6 comments:

Bahamute said...

Parabéns, Doutor Careca!
Tem coluna sua na DS desse mês?

muito bom o conto..

Hord era como um cavalo selvagem e inquieto que precisava ser domado vez ou outra.

Anonymous said...

Caramba,Mr Careca!! Texto show de bola!! Quanto a seu presente de aniversário,fique triste não,que eu vou providenciar uma coisinha.Detesto ver um genio do mal ficar triste.......

Anonymous said...

Bom, quanto ao conto:
Genial!!!!!
Quanto ao seu aniversario:
Parabens, mandarei um presente pelos correios para a edição da ds, ou pelo seu e-mail de trabalho, o que for mais viavel a minha pessoa.

Anonymous said...

Opa, parabéns pela data jovem.

Não li o conto porque não curto ler aos pedaços, mas deve estar na tua média hauah ;)

Bonanças

Anonymous said...

Parabéns (um pouco atrasado), Doc! =)

O conto ficou legal. Indago-me quais teriam sido os motivos de Randar Axeblade.

JMTrevisan said...

É... na verdade esse trecho foi escrito há muito anos e é só um interlúdio da história maior. Acabei não mudando nada porque não tava afim e se um dia for fazer isso pretendo fazer com calma.

Mas é certo que eu não manteria as mortes provocadas pelo Randar. Provavelmente ia converter os cadáveres em soldados bastante feridos...